Os Super Commuters e os novos escritórios
Uma nova raça de "super commuters" está a emergir em alguns países.
Aliada à "great resignation" e à nova forma de muitos abordarem os escritórios. Passam a semana nas cidades e regressam aos subúrbios nos fins de semana.
Será que também é uma tendência que temos, ou vamos ter, no nosso país?

Em países como os EUA muitos trabalhadores começam novos hábitos ou mantém os que chegaram com a pandemia.
Durante a pandemia muitas famílias iniciaram um movimento de mudança para os subúrbios em busca de locais mais seguros e onde houvesse mais espaço para o teletrabalho.
Foi algo que se observou durante os períodos mais agudos da pandemia onde os confinamentos eram norma e se prolongaram por vários meses.
Os espaços nas cidades não estavam preparados para uma nova forma de vida.
Esta mudança cimentou-se com a o aumento das empresas que prolongaram o teletrabalho tornando-o, em poucos casos, norma.
Os novos habitantes ganharam o gosto pelos espaços afastados dos centros urbanos onde reuniram condições para uma elevada qualidade de vida e boas condições para trabalhar com recurso às tecnologias.
Os ganhos em termos de tempo nas deslocações diárias proporcionaram muito tempo adicional de qualidade de vida e de tempo despendido em actividades de lazer ou familiares. Tempo considerado de qualidade.

O que resultou num fluxo para estes estes espaços e a uma troca, por parte dos que tinham essa capacidade, por zonas mais periféricas relativamente aos grandes espaços urbanos.
Mas muito da pandemia foi, felizmente, controlado, começando a surgir um movimento inverso de regresso aos escritórios por parte de muitas empresas.
Muitos destes trabalhadores não desejaram esse regresso e desejaram manter este estilo de vida.
E estes movimentos de comportamentos...
Aqui vários componentes e alterações de comportamento são identificados, no que se refere ao modo de vida e à actividade imobiliária e às dinâmicas de trabalho:
Um movimento para a periferia e uma alteração no que se refere à escolha dos espaços no que se refere à imobiliária;
Uma completa adopção da tecnologia para a maioria das actividades desenvolvidas em termos de trabalho (inicialmente forçada), criou um incremento à globalização e ao potencial do nomadismo;
Se havia um desejo, e a prática por poucos, do que é conhecido por "nomadismo digital", esta mudança forçada conferiu, a este modo de vida de trabalho remoto, uma maior visibilidade e novos adeptos. Mais passaram a ter essa possibilidade de trabalhar a partir de qualquer parte do globo. Mas mais importante, experimentaram algo que em condições sem pandemia não teria sido possível;
A adaptação forçada dos espaços habitacionais para as duas funções: habitação e local de trabalho. E ainda um espaço partilhado por toda a família, 24 horas por dia, requer outras condições e maiores áreas;
Passou a haver um maior investimento nos espaços de habitação. Algo que não foi mesmo limitado pelas restrições à circulação, mas incrementado pela tecnologia (e onde os recursos "last mile" (logística de entrega e recolha de produtos) ganharam uma nova dimensão e necessidades de investimento. Até a decoração ficou a ganhar;
A inversão deste movimento, com o controlo da pandemia, não foi bem aceite por todos, particularmente se o enquadrarmos neste contexto de melhoria das condições de vida (nomeadamente para alguns segmentos das famílias).
Para além de outros factores, como alguns dos já expostos, inicia-se um movimento de resistência ao regresso ao convencional escritório (de facto não para todos, mas para os segmento que puderam realizar uma mudança grande no seu modo de vida);
A este movimento, que ainda faz sentir a sua pressão em muitas empresas, tem sido apelidada de "the great resignation" (a demissão de muito quadros de empresas, particularmente as relacionadas com a área tecnológica);
Este movimento acabou por gerar desenvolvimento de muitas actividades individuais (free-lancers) e start-ups por parte daqueles que optaram abraçar novos espaços de habitação e a sua actividade com uma elevada integração tecnológica.
Mas e os que conseguiram uma solução híbrida?
Aqueles que, também numa lógica de bem estar mental e de manutenção do contacto com os seus pares, escolheram o "melhor dos dois mundos"?
As novas "tendências"
Segundo o que nos dizem as tendências, estes encontraram uma solução de compromisso. Uma habitação mais reduzida para os dias de semana em que se deslocam à "cidade" (áreas urbanas) onde se reúnem com os restantes colaboradores e colegas, regressando aos seus refúgios nos subúrbios (ou mais longe) nos finais de semana.
Naturalmente que algumas destas deslocações às empresas dão-se por 2 ou 3 dias por semana (ou por um tempo similar), ficando com períodos mais alargados nos seus "refúgios" de final de semana.

Um efeito directo, na maioria dos casos (ou colateral), do alterar a forma como vemos e formulamos os escritórios após este evento de impacto mundial.
Estes espaços, os escritórios, acabam por se adaptar alterando a forma como a sua oferta de espaço se organiza, de forma a possuir uma estrutura flexível. Mas não para todos.
Em muitos casos, de acordo com as notícias que vão circulando, passaram a ser utilizados espaços do tipo CoWorking, e soluções semelhantes para servir para a reunião de equipas que se mantiveram em formato remoto e híbrido.
Mesmo hotéis, que sofreram consideravelmente com os confinamentos e as restrições às deslocações, passaram a oferecer e integrar serviços deste tipo.
Será uma solução para Portugal?
Mas apesar deste movimento, e das tendências em vários mercados, será que é uma realidade que vá marcar a situação para o mercado português?
Não parece ser o caso. Pelo menos num volume que possa ser considerado uma tendência.
Os movimentos para a periferia foram residuais (no que se refere à aquisição de novos espaços de habitação. Aqueles que já os possuíam, limitaram-se a aumentar o seu uso).
As empresas não desistiram dos seus espaços totalmente, apesar de puder haver algumas adaptações e alguns casos de funções que passaram a híbridas.
Aliás, os investimentos em estruturas deste tipo prosseguem, assim como desenvolvimento de centros de negócios e de inovação, quer por corporações como por parte de unidades de investigação de vários tipos de negócios.
Notícias recentes indicam mesmo um crescimento do número de empresas estrangeiras a investir, por exemplo, na região do Porto (apesar de começar a ser complexo a contratação de mão de obra especializada para algumas áreas, como a tecnológica), onde o nível de vida é considerado bom e um bom sítio para viver. Haja habitação para todos.
Apesar de muito permanecer como nos períodos pré-pandémicos (até porque houve sempre quem não se tenha adaptado aos modelos remotos ou híbridos), haverá sempre uma mudança na nossa percepção dos espaços de trabalho (pelo menos para os que têm essa possibilidade).
Talvez uma "coisa" geracional?
