Portugal nos últimos anos (e o Porto em particular) tem recebido inúmeros reconhecimentos e prémios a nível mundial pelos seus atributos enquanto destino turístico ou local para residir com a melhor das qualidades de vida.
A gestão diz-nos que a definição de uma estratégia e o planeamento são as melhores formas de antecipar actividades futuras e empreender acções tendo em vista o alcançar os melhores resultados a médio e a longo prazo.
Estando a entrar numa fase em que se procura criar condições para que o regresso a uma condição próxima de um qualquer normal começa a tomar forma, também o ganhar perspetiva e começar a pensar numa lógica prospectiva ganha sentido e importância.
E pensar em prospectiva não é algo que se faça no curto prazo ou se execute "em cima do joelho".
Até espaços que nos são próximos, como por exemplo a nossa ilha da Madeira, está já a desenvolver acções no intuito de atrair, já nesta fase, aqueles que estão a ganhar relevância em termos de novas formas de trabalhar. Ou seja ganhar visibilidade em termos dos adeptos do nomadismo como forma de trabalho.
Se uma das coisas que a pandemia de Covid-19 conseguiu trazer foi uma noção de que as formas de trabalhar irão mudar, mesmo que seja só para uma parte da população (e provavelmente, e definitivamente, para uma geração).
Outros destinos começam a desenvolver e a apresentar soluções para este público, que para além de uma parte ser mais jovem, vai aumentar em dimensão resultado da alteração das formas de trabalhar provadas pela pandemia.
Estas alterações passam, como a maior parte de nós sabe, ou ouviu falar nos órgãos de comunicação social, por uma redução ou abandono da utilização de escritórios físicos, particularmente para os que tem como trabalho a área dos serviços.
Naturalmente que grande parte dos trabalhadores poderá não ter esta oportunidade, mas com a automação e a digitalização de soluções nas empresas, o volume irá certamente crescer.
Será que Portugal, e também o Porto, após tantos prémios e reconhecimentos a nível global, vai conseguir encontrar o seu espaço ou, mais uma vez, vamos ficar a ver o que outros destinos vão fazendo e aproveitamos, anos mais tarde, o que sobrar ou quando os turistas já estiverem motivados para explorar outros destinos?
Há que ter em consideração que este é um mercado com alguns milhões de potenciais alvos, de origem em todos os países do mundo, e que se estabelecem num dado destino por períodos mais alargados de tempo do que os habituais turistas.
Se tivermos em consideração o número médio de dormidas (o RevPAR) dos turistas principalmente em certos pontos do país em bastante baixo, atrair estes públicos seria uma forma de estimular a própria economia das regiões e aumentar o número de dormidas, assim como todo o restante investimento que estes turistas acabam por deixar nas zonas em que se instalam.
Naturalmente que coisas como a velocidade da internet não pode funcionar como tem funcionado (lamentavelmente) para os nossos estudantes confinados. Será uma boa motivação para que esse tipo de assimetrias também sejam atenuadas (já que corrigidas será difícil, para não dizer utópico).
Também se deve considerar que uma boa parte destes nómadas digitais não procuram habitualmente espaços saturados de turismo, pelo que as cidades e regiões que são melhor candidatas são as que conseguem proporcionar um conjunto de soluções, nomeadamente a proximidade a áreas que podem servir de diversificação da sua proposta de estadia, mas com o suporte de um espaço mais cosmopolita.
O Porto e a Região Norte, são bons candidatos nessa perspectiva, como é sabido.
Mas, e a questão repete-se, saberemos nós aproveitar esta janela de oportunidade?
Quando diferentes territórios, como as Bahamas, os Barbados ou o Dubai, começam a diversificar as suas acções para captar estes públicos, como por exemplo vistos temporários.
Será que já alguém se interessou, no nosso país, em quantificar o potencial deste novo turismo, que não será tão sazonal, nem terá tantos constrangimentos em termos
pandémicos (nomeadamente porque as
questões dos isolamentos temporários deixam de ser um obstáculo tão relevante) e as mais valias que poderá ter em termos de entrada de divisas ou de melhoria da nossa Balança Comercial?
Muitos alojamentos locais, desde que com preços de arrendamento mais condicentes com este tipo de turismo e com o seu ocupante, iriam certamente agradecer.
O mundo já estava a ficar cada vez mais "local", apesar da nossa noção de que eramos todos cada vez mais globais, porque os portugueses ganharam recentemente a possibilidade de viajar nos vários níveis sociais.
As preocupações ambientais são disso exemplo com a vontade de banir os voos comerciais e a adopção, por exemplo do comboio (que levou em alguns países europeus ao aumento do recurso desse meio de transporte) num movimento que ganhou dimensão no norte da europa com o nome de "flygskam"ou "flight shame".
A pandemia está a tratar do resto.
Será que não está na altura de tratarmos de procurar alternativas, ou aumentar o leque de opções, no que diz respeito ao turismo e ao que representa em termos de PIB?
Algo para pensar nos dias finais de confinamento, esperemos que o último.
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